terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Estilhaços - Eduardo Wotzik

Rio de Janeiro, Gávea.
Em cartaz no Planetário, Museu do Universo.


Estilhaçar - despedaçar objeto de vidro ou metal com violência, através de arremesso à distância, ou ao chão. Acreditei, portanto, que a peça teria algo de agressivo, de destruído. De destroços.

Como enganam as palavras.

Nada disso. Pura ocasião para indagações. O ambiente interestrelar convida a refletir como somos infímos diante do universo. Sabe que dá uma certa leveza entender-se como uma partícula sem importância? Senti-me de fato bem leve naquele momento, retirado o peso das dúvidas. Sou humana, terráquea, um grão de areia diante do universo, portanto, invisível aos olhos de toda a galáxia! Sentindo-me assim, protegida pelo anonimato, acompanho convidados ilustres a uma sala, onde não imaginei que seria o espetáculo, aguardei por uma palestra sobre meteoros estilhaçados, sei lá. Não. Era lá mesmo que teria lugar um belo, moderno e envolvente espetáculo. Entremeados ao público, salpicados estrategicamente pelos puffs brancos, os atores iniciaram a peça. Orquestrados, levantam, recitam, interpretam, atravessam a sala pelos espaços disponíveis. Sucessivos, ritmados. Vez em quando nos olham nos olhos, e nos tocam, como fazemos em uma conversa informal. Suas vozes ressoam potentes e claríssimas. Não sabemos falar como eles. Não sabemos dizer como dizem, gesticular como fazem. Como é prazeroso assistir o exercício da arte tão de perto! A proximidade aumentou a absorção das palavras, escolhidas a dedo. São palavras coloquiais, mas parecem revelações. Arrancam risos, concordâncias, exclamações. O talento do escritor imprimiu especialidade a situações rotineiras. Ele fala daquelas coisas, sabe, aquelas coisas, em que pensamos durante o dia, e não falamos, porque não são lá muito nobres, ou porque são nobres demais e fugiremos ao tom de despojamento que cai tão bem atualmente.
Da palavra estilhaço fica o significado de pedacinhos, mas muito bem destacados de um livro bom. Pedacinhos a colar nas agendas, e armários, como pensamentos para o dia que vem. E pensamentos engraçados, fáceis de serem seguidos, sem o tom grave que dificulta a ação. (ninguém gosta do que é grave).
Os estilhaços da vida, assim dispostos, formaram um mosaico, harmonioso,luminoso, um enfeite de cores variadas. Nada como a a inteligência de um texto para colorir a rotina.
Gostei. Saí melhor do que entrei, mais à vontade comigo e com meus pequenos pensamentos.

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