segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

O Deus da Carnificina


Rio de Janeiro, Centro.
Maison de France
Janeiro 20111.
Divulgação

A superficialidade não me interessa.
Quero a verdade invisível aos olhos
Quero o que se revela às 3 da manhã - quero o impronunciável.

Tenho esse sentimento. Sempre tive. Desprezo a futilidade, o comportamento socialmente aceito. Quero conhecer o que se tenta dominar, a selvageria natural do ser humano. O que para muitos é vergonha, para mim é um sinal de humanidade. Sou viciada na verdade, e bem, foi o que tive.
Uma sala comum, numa casa comum, com livros, telefone, flores. Cenário? Sim. Podia ser um escritório, um salão de leitura. Mas é um rink.  Dois casais no palco, sóbrios e contidos. O diálogo inicia-se civilizadamente,  discorrem sobre uma tentativa de conciliação entre as duas famílias, motivada por uma violenta briga juvenil entre seus filhos. Uma das crianças foi espancada, com sérias sequelas físicas.  O decorrer do diálogo modifica a cena.  O confronto verbal traz as entranhas à tona. Revela as vísceras e as chagas, mágoas acumuladas e silenciadas. Horrores comuns a todos nós. Revela os pecados, não os prazerosos, mas os pecados que de fato nos condenam. Quem jogará a primeira pedra? Quem é melhor que Veronika, Alan, Michel, Anette? Ninguém. Somos todos assim, cheios de segredos e de medos e de vícios, vícios que nos enganam mas nos mantém vivos.
A carnificina da aparência de moralidade. Vômitos, tapas, acessos. As reações que em algum dia evitariam um enfarto, mas não tivemos coragem, seguramos. Enfartaremos. A paciência é uma virtude que se alimenta da sua prática. Vamos praticar, vamos sorrir para a foto. Somos hábeis em sair bem na foto, não em sair bem das brigas.
Vá. Assista. Reflita.
Verá que não somos melhores que ninguém. Após anos de terapia e de educação formal, estamos controlados só por hoje. Puxe o fio certo, e cortina da sua alma se abrirá. Não é  bonita, não importa; desfilará descalça e nauseada, sobre rosas despedaçadas, mas estará livre.

2 comentários:

  1. Como diria Nelson Rodrigues: "Convém não facilitar com os bons, convém não provocar os puros. Há no ser humano, e ainda nos melhores, uma série de ferocidades adormecidas. O importante é não acordá-las."

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  2. A verdade é que, mesmo não admitindo na maioria das vezes, somos todos intragáveis - Graças a Deus!

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