quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Solidão, a Comédia

Solidão, a Comédia.
Teatro Cândido Mendes, Ipanema.

"Juntar pessoas em um teatro e não rir? é um desperdício de vida"
(Vicente Pereira)


Os outros bairros que me desculpem, mas Ipanema é fundamental.
Terra que acolheu, fomentou e divulgou o Besteirol. Terra dos libertários, e do por-do-sol mais lindo.
Assim predisposta às coisas boas da vida, chego à exposicáo Assim é o Besteirol, uma homenagem emocionante ao autor Vicente Pereira. Frases memoráveis, ensinamentos do mestre, instalações, fotos. E tesouros: textos seus, e de outras maravilhas do besteirol, ali, ao alcance das mãos. Pode pegar, manusear, aliás, no besteirol, pode manusear mesmo. Vamos manusear a vida, para que nos faça rir.
Aqui a Solidão é uma comédia. É para rir das nossas mazelas, das nossas compulsões, das nossas teimosias. Assisto Mauricio Machado desfilar cinco personagens, cada um mais só e mais teimoso que o outro - não desistem de buscar companhia. O rapaz apaixonado por cinema, que aguarda a namorada que não vem; a prostituta, esquecida pelos antigos clientes, que pede um entregador de pizza, ops, que pede uma pizza; o playboy do jet set, de sexualidade dúbia, aguardando a esposa para exibí-la como a um troféu; a melindrosa alcóolatra, em seu primeiro e talvez último encontro; e a velha, em companhia da morte. Fazem de tudo para não enxergarem-se sós, e findam por render-se, sem pudor, a esta realidade.
O desafio do ator é imenso. Diogo Vilela marcou o teatro com sua interpretaçao nesta peça. Sua atuação foi inesquecível. Mauricio Machado fascina com os personagens femininos. Chego a ver seus pares, seus pretensos pares no palco com ele. As dimensões do teatro aproximam muito o público do ator, vemos o esforço físico derreter sua maquiagem. Bem, ele fica mais humano assim. As mulheres aparecem sob sua pele, e suas decepções, previsíveis ou não, nos fazem rir. A prostituta encontra uma saída, um consolo, um pequeno remédio para aliviar dor. A melindrosa dança e cai e bebe e dança e cai, e se revela. Tenho a impressão de que a conheço de algum lugar. A velha é uma sábia, sabe viver. Cumpre seu papel de cuidadora, de vigia, de amiga, e sua solidão tem a consciência tranquila.
Mauricio volta ao palco com o quimono da morta - simbólico isso, não? - para nos ensinar a saborear a sopa da vida - com imenso prazer, um gole delicioso por vez.

Descobri porque rimos. Porque a solidão é inevitável, e já que é inevitável, relaxe e aproveite.

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