segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

HAIR - amar, invadir e libertar

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H A I R - 2011, Rio de Janeiro.
Oi Casa Grande.

Falar de Hair é falar do invasor, porque Hair é isso: invasão. Em nome da liberdade, claro, mas invasão.

Hair invade, conquista e domina o espectador. Cenário, figurino, trilha sonora, coreografia e elenco. Hair triunfa cantando e dançando, e claro, fazendo amor.

Sabe o que é um palco cheio de vida? De vida comemorada e pulsante? Juventude, rebeldia, beleza, força, cor. Tudo que a maioria de nós queria desfrutar.
Quem resistiria? Deixe-se invadir, e feliz. E mais - faça como eles, faça amor à vontade. Eles querem, podem, e fazem. Quantas vezes quiserem, com quem quiserem. Drogam-se. A droga, em Hair, parece um bálsamo para a mente e para o corpo, na Nova York de 1968, quando ainda não enriquecia os traficantes e alimentava a violência. E sonham. O sonho lindo da paz, que acabará com a guerra do Vietnã. Sonham que poderão viver em paz.

No desfecho da história de Hair o hippie vai para a guerra. O rapaz é enviado para matar e morrer, por imposição do Estado e de seus pais, e ele não consegue livrar-se. Vai, como um kamikase, servir até o fim, ao que não acredita.

Fiquei ali sem saber o que fazer. Queria dizer a ele para não ir. Queria bater em seus pais. Queria dizer que fugisse com seus amigos. Sua dor me invadiu e queria poder defendê-lo, e a mim, e aos meus filhos, e aos meus amigos, inúmeras vezes obrigados a cumprir, dolorosamente, deveres que não contraíram.

A montagem de Charles Moeller e Claudio Botelho deslumbra. O elenco é divino, esteja nu, (ficam nus sim, como nas montagens anteriores), quase nu, ou não. A esta altura do jogo, a nudez me impressiona menos que a morte. Voto na cena da morte coletiva como a mais impressionante - todos morremos um pouco quando um amigo se vai. Aonde andavam esses atores? Onde cantavam ou dançavam? Não encontro um senão sobre eles, seria injusto e invejoso de minha parte. Na saída do teatro os vi passar. Gente comum na calçada, estrelas no palco. A magia da arte.

Não sou hippie - no Brasil, hippie é mendigo - mas sou rebelde. A peça passa-se um ano antes do meu nascimento, portanto, quando nasci, a atmosfera já era de liberdade - talvez por isso eu ame a liberdade profundamente, estava pelo ar e a absorvi. Os hippies modificaram a cara e o coração do mundo. A relação das pessoas ampliou-se, podemos hoje misturar-nos, cores, religiões e profissões, na cama e na vida. Continuamos a batalha pelo respeito às diferenças, ao que hoje chamamos de diversidade. A insatisfação pacífica que pregaram e praticaram está impregnada de Ghandi, de Jesus, de Buda. O amor tem as mesmas marcas em todas as culturas.
Suas lutas são as atuais. O furor imperialista dos EUA é igual. O domínio econômico é igual. A burocracia e a política são iguais. A vontade de viver do homem é igual. Acho que lutaremos para sempre.

Invadida, dominada, e libertada por quem prega a paz. Poderei usar túnicas coloridas no sonho visível dos guerreiros, e as tirar se mudar de idéia. Imagino-me no galpão frio, onde trinta amigos se protegem e se aquecem. Quero cantar todas as músicas de Hair, e quero, como quero, quero deixar o Sol entrar.

3 comentários:

  1. Adorei a crítica. Fiquei com muita vontade de assistir o espetáculo.
    Grande beijo

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  2. To querendo assistir este espetáculo, agora com tua dica, é quase certo de ir mesmo!!! E viva a liberdade!!!

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  3. Parabéns,adorei seu comentário! PERFEITO!!!!

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