sexta-feira, 2 de setembro de 2011

O irresistível convite ao adultério

Rio
Sorrio
Sorri

É, é assim, tenho observado

"Há homens que enxergam no casamento, uma oportunidade para o adultério"
"No adultério há pelo menos três que se enganam."
(Carlos Drummond de Andrade)



Por puro interesse científico, lógico, tenho observado o comportamento de pessoas comprometidas.
Homens e mulheres.

Preciso atualizar a afirmativa de meu adorado Carlos. Há gente que enxerga no adultério uma oportunidade para o casamento.

Sim. Ouvi com todas as letras do meu portugués ruim. A moça - é moça do sexo masculino, mas é moça para todos os fins em direito previstos - afirmou: "depois que comecei a escapar por aí meu casamento melhorou. Mesmo. Acho tudo ótimo, a casa ótima, a comida ótima, tudo é mais tranquilo que antes. Antes estava tudo muito chato. Tenho mais tesáo, trepo mais."

Ora ora ora, pensemos. A rotina é chata. Casamento é chato. Precisamos todos, de romance e de aventura, e náo de relógios e relatórios e permissóes. Dificilmente um casamento ou uma relaçao mais estável proporciona romance, aventura, e mantém elevada a libido.
Poucos são os casamentos que se mantém por suas qualidades,tão necessárias quanto essas aí da linha acima. Fulana tem um bom casamento, o marido é alegre, gentil, companheiro. Apóia, ótimo pai, ótimo genro. Vivem juntos. Tem lá suas coisas, mas é muito querido. Há quanto tempo náo ouve isto? Há muito, certamente. E se ouvir, creia. O cara é assim táo bom porque tem uma amante.

Para alguns é preciso um terceiro elemento. Uma terceira criatura que vai alegrar seus pensamentos. Que dará o calor necessário para o corpo sentir-se mais confortável e aquecido diante da frieza do dia-a-dia.

Para quebrar a sucessáo repetitiva do cotidiano, sem surpresas, sem rompantes, sem palpitaçoes. Sem música.

Escutei outro depoimento, agora vindo de uma mulher mais madura, casada há vinte anos. Ë táo somente a outra face da mesma moeda: " - ah, sexo eu tenho com meu marido. O que quero é passear, conversar, ver gente. Sair, me arrumar. Meu marido é muito caseiro, náo gosta de sair. Bom na cama ele é sim, mas cama náo é tudo náo. Esse garoto que conheci adora sair, passeamos, vamos ao cinema, ao shopping, boites."

Temos aqui o inverso. A intimidade é boa, o ruim é o convívio social. Ela quer tudo. Quer a cama com o marido e os passeios divertidos com a turma do namoradinho.

Eita. Assim náo vai dar gente. Queremos tudo e estamos tendo. A questáo toda é essa: querer, sempre se quis. Mas nao se tinha, náo se podia ter, náo havia a oportunidade. Náo havia direitos a saídas sem o par. Náo havia alforrias äs quintas, ou as sextas.

Hoje as oportunidades abundam. Os quereres abundam. As vontades abundam. E a solidáo, álibi de toda a infidelidade, abunda. Justificativas de ingratidáo, de descaso, de diferenças afastadoras; permite-se buscar ( e encontrar) felicidade (mais) fora dos laços conjugais. A maioria dos casais é uma dupla na foto do orkut, no facebook e do porta retrato. Se houvesse a lente da verdade, certamente registraria mais indivíduos nesta mesma relação.

Casal de verdade, amor no coração, unidos na saúde e na doença, na alegria e na tristeza, com a tal da exclusividade, está difícil.

O amor virou uma grande conveniência - usufruimos o que convém, deletamos o que nao convém, e encontramos o que nos convirá mais, ou melhor, ou especificamente, em outros braços.

O amor, hoje, pode ser a três. Ou a quatro. Ou a cinco. Vai-se preenchendo com as figurinhas certas o álbum do coraçao. Ganha quem completar a página do meio: figurinha do sexo, figurinha do companheirismo, figurinha do lazer social, figura da admiraçao intelectual.

Eu? Náo. Ainda sonho com a fidelidade. Ainda acredito que uma única figura baste por todo o álbum.

Creio nisso, meu bem, toda vez que me sorri.

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