Litoral
Rio
Mar batendo
A banda e sua peregrinação
Suas toneladas de Solidão
Dina (Ronit Elkabetz) e Tewfik (Sasson Gabai), regem uma banda invisível
Escutem sua música
Não falemos de Israel e Egito. Falemos de gente.
Humanos, terráqueos, bípedes. Mamíferos. Temos gente em todas as nacionalidades e religiões.
Gente atrás de amor ou de alívio. Gente perdida querendo se encontrar ou preferindo ficar perdida mesmo. Gente querendo ouvir música onde não há música, e querendo ver praças com crianças onde há chão de terra e cimento.
Há quem escute na imagem acima os protagonistas regendo uma orquestra. Eu ouvi.
Há quem veja a praça na solidão da cidade onde se perderam, eu não consegui.
O música instrumental é mais fácil de imaginar do que a imagem; é palavra em outra língua, e se eles se entenderam com línguas inimigas, tambëm nos entenderemos.
Os oito componentes da Orquesta Nacional da Alexandria, aportam, erradamente, em uma pequena cidade de Israel, esquecida pelo Estado e pelos próprios habitantes. Uma cidade sem empregos, sem lazer, sem tecnologia. Uma poeira à beira da estrada. Personagens povoam a cidade - Dina, cética, ávida, resignada, e seus ajudantes no restaurante, também à beira da poeira da estrada, os rapazes Itsik e Papi. O primeiro, representado pelo ator Rubi Moskovitz, é casado e infeliz no casamento, a esposa o despreza. É dele a frase que me impressionou: "toneladas de solidão". Camarada, tens razão. A solidão abunda e pesa. Reproduz-se, se espalha, e em seu silêncio único pára o tempo ao seu redor.
Não há muito o que te distraia. Estarás assim acompanhado por todos os lugares da Terra.
O outro rapaz,o feioso e desajeitado Papi, está louco para começar sua vida amorosa, e terá o auxílio do belíssimo egípcio Khaled, Saleh Bakri, o violinista da orquestra.
Saleh conseguiu compor um galã engraçado em seus assédios, repetitivo, inconveniente, mas bem sucedido. Um toque de canalhice na dose certa, um professor de namoricos.
E vem dele a noite de alívio de Dina. Queria outra coisa, uma noite de amor, como as sonhadas na infância, com Omar Shariff. Não foi para ela nessa vida. Fica com Khaled mesmo, é seu prêmio de consolação. Sua distração que não alivia, em nada e por nada, sua frustracão.
Basta entender: há gente que nasceu para ser só.
Há gente que não terminará seu concerto em grande estilo, com arranjos grandiosos. O concerto termina assim, suspenso, uma pausa, um intervalo sem continuidade.
Essas 24 horas dividas pela banda egípcia e os israelenses deste elo perdido não mudou a rota das relações internacionais, e talvez não tenha mudado também a rota das suas relações humanas. Todos prosseguirão como chegaram, dignos e sós; cientes de que existem outras pessoas com igual dignidade e idêntica solidão.
A Orquestra Nacional da Alexandria
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