domingo, 1 de maio de 2011

RIO - let me take you to Rio

Roxy
Copa
Rio


Eu sou do Rio. Sempre fui.
Náo porque nasci aqui e aqui me criei, mas porque escolhi.
Podia ter saído há vinte anos, fiquei.
Posso sair agora mesmo, mas fico.

Tenho visto os anúncios do filme. A ararinha Blu, e seus amiguinhos, em aventura pela Cidade Maravilhosa. Fofos.
A imprensa dizendo que é ótima propaganda para a cidade que vai sediar a Copa do Mundo. Sim. Desde que os atletas, as comitivas, os torcedores e os turistas não encontrem as situações mostradas na sala escura.
O filme começa com a captura de pássaros lindos e felizes, que cantam e sambam em meio a selva carioquense. Livres e harmônicos, subitamente arrancados de seu habitat e carregados em caixotes para o exterior.

Anos depois, a arara azul retorna ao Rio para procriar.
No Rio da animação, o tráfico de animais silvestres prossegue. Em sua primeira noite em terras tijucanas, nossa ave e sua namorada são roubadas de seu aconchego, por bandidos da favela que contam com o serviço de um menino, abandonado pelos pais, e que precisa do dinheiro para comer. O cativeiro dos pássaros é na favela.
O menino, arrependido, rouba uma moto na favela para auxiliar na perseguiçao aos fascínoras e a dirije em alta velocidade. Portanto, favela tem bandido, cativeiro, e motos roubadas.
O que Anne Hatheway foi fazer lá? Mostrar que não é tão perigoso assim?

Ah sim, macaquinhos. Os micos cariocas divertem-se os turistas e roubam suas jóias. São uma quadrilha de primeira.

Mais? sim. O cientista brasileiro é ridicularizado, faz papel de bobo. Atrapalhado, careteiro.
E o povo? Só no samba e na festa. A vizinhança fecha a porta na cara para a americana que procura seu bichinho.
Não tem estudantes, policiais ou trabalhadores. A única imagem familiar é de um pai e filhos, em casa, televisão ligada, pandeiro na mão, ensinando a filha menor a sambar. O simpático tucano escapa da esposa e filhos; depois voltará para o seio de seu lar, e será bem recebido. É a dinâmica do malandro.

O que o filme tem de bom? As paisagens. A música.
Deslumbrantes, tiram o fôlego. Beleza exuberante e poética.
A trilha sonora vem de Sergio Mendes, Carlinhos Brown, Bebel Gilberto. Ver e ouvir, mas não pensar. Pensar aqui faz concluir que metade do Rio está no samba e a outra metade está surrupiando alguém ou alguma coisa. Não é isso que acontece. Temos mais que beleza natural, temos gente de valor. Tanto quanto é possível em um país sem saúde, sem educação, sem planejamento, sem incentivos consistentes ao esporte. Um país onde ONGS fazem mais pelos menores que os Ministérios. Onde a Igreja Evangélica salva jovens das drogas, e o governo náo tem um programa de recuperaçao de viciados.
Um país onde o Exército controla com hospitais de campanha a epidemia de dengue, porque os civis náo conseguem atender os doentes com seus mil hospitais precários.
Um Rio onde as favelas foram pacificadas em tempo recente. A estrutura de senzala ainda permanece, e os pontos solidários começam a se organizar.

Temos gente boa por aqui sim. Aliás, é o que temos, pois náo temos outras opções além das ações dessas boas pessoas.

O diretor Carlos Saldanha, brasileiro, deve estar feliz, ou pelo menos bem remunerado. Seu filme é um negócio altamente rentável.
Os 90 milhóes de dólares investidos já trouxeram 340 milhóes de dólares em receita, até março. Enquanto escrevo, os cifrões devem ter atingido o quádruplo do valor investido.

Eu náo fiquei feliz náo. Quero ver um Rio melhor, nas telas, e na vida real.
Para antes da Copa.

Um comentário: