Brasil
Terra Adorada
Salve
Esse saltinho há de riscar o chão
Escutei minha mãe dizer que minha avó andava de saltos finos em casa.
E que o sinteco da casa era todo riscado pelo salto fino, alto e pontudo da minha avó.
Ponta que risca o cháo. Avó querida, que riscou seu nome em meu coração.
Andava de bicicleta, corria, freiava. O freio riscava o chão. Eu ria.
Nadava. Espuma pautando o mar. Travessia. Às vezes, completava, em outras vencia.
Tive filhos, a cicatriz divide o ventre.
Minha barriga ficou riscada para sempre.
Há riscos também no prazer - sua barba risca meu rosto,
e eu gosto,
desse carinho em desconforto.
e ao fazermos coisas que não posso dizer,
ficam nas minhas costas os riscos
ardem linhas onde passaram seus dentes.
e seus olhos estreitos finos por trás das lentes
me miram,
e eu náo pisco.
Na mão direita, linha de prata. O anel está todo riscado,
e é melhor que seja mesmo mudo e inanimado,
e não diga o que viu enquanto foi usado.
Gastei meu scarpin de verniz preto
ficou mais macio e mais arranhado.
Ficou mais meu, assim marcado.
A marca é o sinal do que a gente viveu.
Rabisco palavras e sonhos,
faço um check list dos medos vencidos
Risco risco risco - o que faltam vencer eu sublinho.
E no Carnaval e no aniversário
Quero riscar o chão com o passo improvisado,
esbaldar com o batuque rasgado,
do tango canção
Quero em ritmo quente,
o mapa do samba no chão.
Mas tem que ser simples e inocente,
como a criança desenhando a giz,
a criança do Pavão, no calçadão de Ipanema,
ou a menina rica no nobre solo de Mont Martre, perto do Rio Sena
Ambas seráo inocentes e desenharão.
Desenhem uma pipa,
quero esse presente.
Mas a quero igual daquele menino, pobre, sujo e favelado
a dele voa mais Livre Leve e Solta
pois a pipa e o menino não reconhecem reinados.
E risquem bonito, um risco largo, preciso,
um risco em arco.
Que me mostre os passos e o caminho do paraíso,
uma pista, uma saída.
Eu sigo, não preciso de mapa.
Fiquem tranquilos
Entendo de riscos, entenderei os traços.
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