Acuda Iemanjá
É dia de Ressaca
Salve a praia Rainha do Mar
Foto: internautas
O Arpoador é água, e mais água
Ressaca: "A chegada de ondas violentas à costa; causada por rajadas de vento fazem subir o nível do oceano e aumentam, já em mar aberto, o tamanho dos vagalhões. Impulsionada por correntes marítimas, a massa de água caminha com velocidade crescente até encontrar o litoral. Ao chegar à praia, o mar agitado inunda a faixa de areia e as ondas quebram bem próximas da orla. Há também relatos de banhistas tragados pelo mar e levados para longe da praia pelas fortes correntes marítimas", diz o oceanógrafo Joseph Harari, da USP.
Fui ver. A gente precisa ver a ressaca.
Cheirar. A ressaca inunda a gente com o cheiro de sal. Borrifa água benta, água marinha, água brava. A moça do mar, a Rainha, está com raivs, e grita.
A ressaca é o rugir de Iemanjá.
Tenho os óculos molhados, o cabelo respingado. Sinto frio. Sinto que fui batizada, violentamente apresentada à Natureza: eis aqui sua filha, está parva diante deste espetáculo. Sinto-me amedrontada, atiçada a refugiar-me. Resisto, quero que Iemanjá me reconheça quando me vir em outra ocasião.
O bom senso e a memória fizeram que recuasse. (Lembrei-me do marido de Ana Botafogo, tragado pelas águas furiosas do Leme em 12 de Agosto de 1988, o inglês Graham Bart, bailarino.) Em corpo somente. Meu coração permaneceu encharcado, como a areia, como o asfalto; o bater do Oceano Atlântico arrancou-me dores, arrancou-me mágoas. Arrancou medos e tragou-os, mar afora, mar adentro.
O mar alarga-se. Largo, forte, feroz. Sem convites, arromba o asfalto, as pedras portuguesas. Não há IPTU que proteja os ricos dos prejuízos; pelo contrário, suas portarias foram as primeiras a serem atingidas. Há turistas por Copacabana, esperavam samba, encontraram mar.
Bancos soltos, lixeiras viradas. Lagoas salgadas espalhadas, lamas de areia bege. Os corredores desviam dos obstáculos, cientes da kilometragem a percorrer. Parecem náo temer que a Natureza se ressinta desta indiferença.
Faz frio no Rio de Janeiro, cinza o céu, o mar, as pedras. Quis que meu amor me esquentasse, mas ele náo está, enfrentei o cinza deste dia sozinha. O cinza instiga o Homem, instiga os orixás. Acorda Iansã e Iemanjá.
O mar está branco, branco sujo, espumado, o alto mar cor de ardósia, gelado. Que bom que os garis usam laranja, é a cor dos monges budistas, enquanto os monges cuidam das almas, os garis cuidam das vias urbanas, e ambos atingirào a salvação pelo exercício da humildade. São eles os pontos de cor deste domingo na orla; senti medo de que o céu não fique nunca mais azul, e o mar nunca mais se acalme.
Sinto-me diminuta diante deste quebrar das ondas, que parte pedras e muros;
sinto-me diminuta diante do mundo.
Mudo de idéia. Sou forte, estive ali, vi, e voltei para contar.
Ipanema sem areia. Veja ao fundo, os garis ocupadíssimos. Coincidência, o laranja é a cor dos monges budistas
Vingança do proletariado - a ressaca catucou os milionários da Delfim Moreira
Copacabana, náufraga princesinha
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