Rio de Janeiro,
Terra Adorada,
EUA, Grécia Antiga
Vamos resistir à tentação
Giges, o pastor, e Candaules,a rainha, de Jean-Leon Gerome
Estou de molho. Repouso. Pé torcido.
Ler, ler, reler.
Releio com atenção redobrada o espetacular FREAKECONOMICs, de Levitt e Dubner, dois jovens economistas norte americanos, corajosos o bastante para derrubar as teorias sócio-econômicas facilmente aceitáveis. Encaram a economia sob o prisma humano: o comportamento individual que se multiplica pela sociedade afora, e impacta em perdas ou ganhos, em aumento ou diminuição da criminalidade, e modificações na legislação. Muito que bem. Até que chego ao capítulo onde os autores dissecam pesquisas e relatórios que provam, por A + B que somos todos, trapaceiros em potencial.
Haja a oportunidade, a invisibilidade da ação, o faremos. Ser flagrado apavora mais que ser punido; o flagra é imediato e indiscutível. A puniçao pode ou não ocorrer em virtude de influências, escolaridade, e por aí afora. Sabendo que seremos pegos no ato, náo fazemos. Em contrapartida, o medo de ser preso náo inibe nosso bicho homem, acostumado a livrar-se dos ditames legais.
Entáo mentimos. Mentimos nas pesquisas de opinião, para parecermos politicamente corretos, mas não mantemos as manifestadas preferências nas escolhas de parceiros, amigos, e lugares que frequentamos; professores roubam nas respostas dos alunos, para que as instituições onde lecionam tenham resultado superior ao real; diretores e executivos roubam broas do lanche e presentinhos dos funcionários, e abusam do plano de saúde da empresa, por acharem que tem direito a isso. Os órgãos estatais mascaram as pesquisas e levantamentos de dados a fim de evitarem mudanças drásticas nos planos de governo.
A verdade dos fatos é a que nos convém, seja por interesse financeiro, bem estar, auto estima, aceitação social ou comodismo.
Estamos longe de sermos tão éticos quando professamos. Seremos criteriosos até que nos prejudique ou até que descubramos que trapaceando, ganharemos mais, com menos esforço e investimento.
Triste, tristíssimo, mas sempre foi assim, desde a Grécia Antiga. O mesmo livro lembra o mito de Gyges, o pastor, que encontrou um cadáver em uma caverna. Rouba-lhe o anel. Começa aí sua saga de desonestidades; o anel confere a invisibilidade, e uma vez invisível nosso Gyges faz miséria. Rouba, mata, engana, espiona, apropria-se, enriquece, enfim, cumpre a lista da marginalidade. Finda por seduzir a rainha e assumir o trono do país, supostamente a atual Líbia. Vejam bem se há mentiras ou fantasias nisso. Quantas vezes pensamos: "eu queria ser uma mosquinha para saber se fulano está no trabalho mesmo..." ou " quando ele desceu para comprar pão, vi que seu mail estava aberto. Li tudo. O canalha tem outra"..."passei pela sua mesa, a agenda estava aberta, vão almoçar juntos sim, te disse, sáo gays, tem um caso, esqueça sua promoção"...
Poderia eu aprofundar-me mais no tema vil. Tantos exemplos e situações que confirmam minha teoria, que ser ético, ou melhor, parecer ético, está na moda. Por isso levantamos essa bandeira. Só por isso. A moda e a aparência da correção, essas sim, definem nosso comportamento social. Na intimidade, e na prática, queridos, a conduta é outra.
Mas não sigo mais nesse assunto hoje náo.
Chega de mentirinhas e mentironas, de enganações, de tramóias. Chega de dores várias.
Está um lindo dia de sol e sou carioca. O clima influencia-me diretamente. Minha vontade hoje é a de Beto Guedes - "fazer agora uma canção alegre, brincando com palavras simples, boas de cantar"...
Queria, quero, tenho palavras alegres para esse mundo egoísta e corrompido.
Há Sol, há vida, há esperança. Há Drummond, de óculos, à minha espera no calçadão, e simplesmente estar simbolicamente a seu lado ( em belas manhãs ou frias madrugadas), espantará para longe de mim, reles mortal, as tentações de também trapaçear nesse planeta.
Drummond, me espere!!!!
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