Orla
Rio
Mar
Cachorrices
Impressionante. Os hormônios masculinos transcendem a espécie.
Homens e cachorros. Machos bravos.
O cachorro em questáo chama-se Chokito. Bravo igual o cão, é o trocadilho em carne, osso, e dentes afiados. Recebido com carinho por sua família humana, apresentou desde os primeiros dias um comportamento selvagem.
Não suporta pessoas nem cachorros. Avançou em todas as pessoas da casa e em todos os caninos do prédio. Aproxima-se de qualquer ser vivo latindo e mostrando as garras. Assustador. Passa metade da vida trancado, a outra metade com focinheira. Elevador nem pensar. Atacou vizinhos, crianças, idosos. A família sofre retaliações. Apareceu distinto senhor tencionando adestrá-lo; sua técnica era a de Pavlov, a dos choques na incidência de desobediências. O voluntário foi expulso a gritos por sua dona, transgressora, rebelde, que jamais apoiaria tal coerção.
Bem, a vida segue. Eu, particularmente, invejo Chokito. Identifico-me com ele.
Há dias em que náo suporto a voz humana. Não suporto os próximos nem os distantes; mas não tive sua sorte, de nascer, crescer e viver em um ambiente que preserve minha ferocidade e meu espaço. Chokito, é em sua essência, feroz, como somos todos essencialmente ferozes. Nós, porém, fomos adestrados a choques pelos fiéis seguidores de Pavlov.
E é isso. Chega visita, tranca-se Chokito. Chokito no carro, ninguém entra. Chokito preso na varanda late até que o salvem, e olhem que a vista da tal varanda é paradisíaca. Atacou um desafeto de sua dona, arrancando sangue sua mão. Passeia três vezes por dia, sob gritos de sua curadora, que avisa aos passantes que seu cão ataca. Corajosa que sou, junto-me a essa dupla, e vamos pelo calçadão de nossa Ipanema afora, só para espantar os nativos ipanemenses que pacificamente fazem sua caminhada matinal. Tudo igual. Chokito é contido a puxões, a escandâlos, promove o pânico, desconhece etiqueta, e ameaça os comportados animaizinhos de Ipanema e suas dondocas.
Mas de repente
Nào mais que de repente
Eis que ao longe vem surgindo uma cachorrinha.
Chokito, o herói da resistência, sucumbe. Atende prontamente ao seu instinto sedutor e imóvel, permite-se cheirar. Cheira também. Cafunga com vontade. Pescoço com pescoço, afagam-se. Escuto California Dreamings on such a winter`s day como sonoplastia, afora o som delicioso do mar. A fera senta-se nas patinhas traseiras, olhar simpático. Sereno e suave. O momento de carinho prolonga-se. Chego a pensar que vai pedir um chopp.
Ai, Chokito, até tu. Sem vergonha. Não nega tua raça de macho. Ao mundo, o mau humor e a raiva, a revolta, o destempero, as vontades prontamente atendidas, sob pena de vinganças cruéis.
Ao objeto de desejo, assim que o avista, o charme e o veneno do macho brasileiro.
kkkkkkk! Chokito é uma figura mesmo! Os brutos também amam....
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