domingo, 3 de julho de 2011

Onde está Juan

Quem tem o mapa de Nova Iguaçu?
E Juan, onde está?
Você sabe?


"Rio - Técnicos da Polícia Civil realizaram, nesta terça-feira, perícia para averiguar o que pode ter causado o sumiço do menino Juan Moraes, de 11 anos, que desapareceu há oito dias, após tiroteio entre policiais militares do 20º BPM (Mesquita) e um traficante na Favela do Danon, em Nova Iguaçu." ( O DIA )


"Polícia, para quem precisa
Polícia para quem precisa de Polícia?" (Titãs)


Eu não sei.
Você, caríssimo, sabe?

O menino Juan, de 11 anos, com certeza, onde estiver, talvez possa dizer.
Seu irmão, de 14 anos, baleado, em estado gravíssimo também.

Mas eu, queridos, eu só sei que Juan desapareceu. Sua existência não era suficiente confiável, devia ser um traficante perigosíssimo. Ele e seu irmão.
O tráfico devia render-lhe fortunas, por isso morava numa favela em New Iguassu, e usava um chinelo da mãe.

E a Polícia, cumprindo o especial dever de caça aos criminosos, os mais terríveis, deve ter atirado neste menino de 11 anos, pobre, negro, favelado, que sequer um chinelo de seu tamanho possuía. E em seu irmão, de 14, que evidentemente era o cabeça da organização.

A delegada responsável afirma que 38 polícias foram interrogados. Beltrame afirma que se houver envolvimento de funcionários públicos todos seráo punidos exemplarmente. Buscas, cães farejadores, uniformes pela mata. Eles estão apavorados. Sumiram com a loura dentista na Lagoa da Barra e agora sumiram com o negro infante da favela. Párem. Vão encontrar mais do que procuram: já achararam o corpo de uma menina de 11 anos, em decomposição.

A criança da favela é sobrevivente de guerra. Sobrevive a fome, frio, sujeira, doenças, torturas físicas e mentais. Foge de balas e de ratos. Foge de metralhadoras, de alagamentos, de tarados. Foge em desalabada carreira, da Polícia.

Foge de seu presente cruel e de seu futuro assustador.

Esse Juan pequenino me apavora. Lembra meu filho mais velho, que recebeu em batismo um nome espanhol para um pedaço de brasileiro. Tem o mesmo marrom da pele e os mesmos olhos negros. Mas nossa sociedade determina o destino de seus cidadãos pelo ponto geográfico onde nascem e Juan, nascido assim condenado, náo teve a sorte de meu Pablo.

Aguardei os jornais de hoje com a esperança, vã, que Juan tivesse sido encontrado. Construi, na minha mente materna, a idéia de que uma família o tivesse secretamente socorrido e abrigado; outra idéia, mais possível, é que seu corpo fosse encontrado e o menino tivesse ao menos um enterro, já que todo o resto náo teve. E sua mãe, que chora e treme e está amparada por ONGS e Defesas Humanas, substituísse o peso do desespero pela punhalada da tristeza. Mas as Ongs e Defesas Humanas apareceram tarde. A Policia chegou primeiro.

Procurem Juan no Céu. É onde deve estar. Segundo as sagradas escrituras, o Reino dos Céus é reino dos bem-aventurados, dos sofredores, dos injustiçados, e dos que choram.

Nota: Horas depois deste post, o Fantástico reproduziu, em rede nacional, o testemunho do rapaz Wanderson, de 19 anos, trabalhador, também baleado, e que afirma ter visto a polícia atirar em Juan. Narra que o pequeno caiu, brutalmente ferido. Os quatro policiais envolvidos estão afastados, e dois deles respondem por homicídio qualificado e resistência, por eventos anteriores a esta emboscada.
Tenho portanto, como certo, que Juan está no Reino dos Céus, e torço para que lá, entre anjos, seja mais feliz.

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