sábado, 23 de julho de 2011

A Saudade no Facebook

A Terra do Mundo

Escrever diminui a saudade

"Saudade

Saudade é solidão acompanhada,
é quando o amor ainda não foi embora,
mas o amado já...

Saudade é amar um passado que ainda não passou,
é recusar um presente que nos machuca,
é não ver o futuro que nos convida...

Saudade é sentir que existe o que não existe mais...
( Pablo Neruda)



Viva o Facebook, e Viva a loura amiga que promoveu esta semana uma discussáo sobre a saudade em sua página. Dez pessoas curtiram publicamente e acredito que outras cem tenham curtido secretamente.

Nào gostamos de curtir o que possa ser apontado como fragilidade. O facebook tem sido, para muitos, uma vitrine de suas virtudes. Que bom que somos todos assim tão felizes, e temos passeios, fotos, amigos, amores, programas, famílias, é incrível como formatamos nossa imagem pública.

Tudo errado. É preciso mostrar-se gente, senáo seremos azeitonas, iguaizinhas e separadinhas em vidros transparentes, rotulados para que ninguém compre gato por lebre. Repetitivas azeitonas em escala de produção industrial.

Vou sair do meu vidro e meter minha colher nesta panela e manifestar-me. Saudade é teimosia.

Sim. Se temos saudade de um ser que está vivo, estamos teimando.

Não há nesta Terra, neste mundo globalizado, motivos de afastamento. Nem quando náo havia internet, as pessoas enviavam cartas, cartas lindas de amor, de amizade, diários mínimos da rotina, fatos, recortes, fotos.

Hoje temos internet, telefones, rádios, passagens aéreas acessíveis, albergues que hospedam barato. E temos cartões de crédito se quisermos nos hospedar caro.

Hoje temos estradas, terrestres e virtuais. Aéreas. Construídas pela vontade poderosa de simplificar as distâncias. Temos pontes, inclusive submersas e secretas.

Hoje há a palavra livre de imposições. Livre de censuras. Conquistamos o poder de amar seres de outras raças, outras classes sociais, outros estados civis. Somos livres e estamos no exercício da liberdade.

Ninguém está preso em lugar indisponível. Incomunicável. Está lá porque quer. Porque se colocou lá. Infantilmente lamentamos a ausência de uma criatura que poderia muito bem estar ao seu lado, poupando-lhe desta dor.

Saudade é teimosia do pensamento, chefe do coraçao. O coração só sente o que a cabeça pensa.

Tive um professor que explicou isso magistralmente. Afirmou, do alto de sua sexagenária sabedoria, que as pessoas inteligentes só abrigam no coração os sentimentos filtrados pela razão.

E depois de tudo dito, percebo que sou teimosa. Ou que náo sou inteligente.

Ainda há a terceira possibilidade: o filtro de minha razão está demasiado aberto, e a saudade transbordou.

2 comentários:

  1. Perfeito querida:"O coração só sente o que a cabeça pensa"...é isso mesmo! Os dois caminham inseparavelmente; é como uma balança, ora o coração tem mais peso, ora a cabeça. E a saudade no meio dos dois.
    Bjussss.

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  2. Tenho pra mim que algumas vezes a saudade que temos é de nós mesmos, da pessoa que éramos quando ao lado daquele (ou daquilo) que hoje, julgamos sentir falta. Mas depois de lidar muito com a saudade, descobri que ela passa. Demora, dói, a gente jura que nunca vai passar, mas passa, como tudo na vida...

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