quarta-feira, 29 de junho de 2011

A carta encontrada

Copacabana
Correio de Beijo
De Maresia

Palavras Esquecidas
Para amiga querida, querida

Viveram juntos, namoraram juntos.

Problemas, questões, mudanças.

Acordaram a separação e venceu a desesperança. Cada um pro seu lado, vida que segue.

E tudo parece se ajeitar na dupla solidão. O mundo fica um pouco mais triste mas se aguenta, porque se aguenta tanta coisa, se aguenta isso também. Há distrações, e a tristeza dói quando lembrada. Desviam portanto, os pensamentos.

Mas toda casa tem armários, todo armário tem gavetas.
E tinha uma carta na gaveta. Escrita em outros tempos, com outros sentimentos, ou os mesmos com outras vestimentas, com outras roupas também penduradas, e sem uso.

Esquecemos de usar tantas roupas. Esquecemos de tantos sentimentos.

A carta conta o Amor. O Amor que se busca, que se persegue, que se conquista.
O Amor que justifica canções e economias, suspiros e atitudes.
O Amor que esqueceram que houve um dia.

A carta, quando entregue, trouxe mais Amor. Anos depois, quando encontrada, trouxe Dor. Onde náo há Amor, há dor. Náo há meio termo.

E a moça chorou. Porque tudo na vida que se quer é Amor. Quando reclamamos do outro, reclamamos por náo encontrar Amor em seus gestos e palavras. Quando discutimos a relação, discutimos os sinais exteriores do Amor. Quando emagrecemos, é por Amor. Quando engordamos, é raiva do Amor.

Quando escrevemos uma carta, papel e tinta, é para registrar. Para ficar claro e provado e visto. Para ser dito, além de sentido.

E carta trouxe de volta o amor vivido, intensamente vivido - os amores intensos sáo mais dolorosos quando se vão - é como perder um ente querido. Fará falta, muita, será esquecido em meio a rotina, mas nunca, nunca substituído.

A carta ficou lá, sem som e cheia de vozes. Sem movimento, inerte, e dançando com suas palavras vivas. O tempo suspenso a leitura prosseguindo prosseguindo prosseguindo...

A moça relembra o dia em que a leu pela primeira vez; a invasão de felicidade, suave, suave, feliz, segura.
Voltam os efeitos do amor, e das palavras sinceras do amor.
A sensação deliciosa do Amor.

Poderá buscá-lo, perdê-lo, enganá-lo.
Poderá até jogá-lo de volta e fechar a gaveta e o coração.

Tudo é possível, há várias saídas possíveis.

E a carta é uma prova, um documento - houve Amor, profundo Amor, extenso amor. Amor que salta de gavetas fechadas, e repete palavras já esquecidas.
Amor que abre portas de armário, e que se tranca dentro da vida dolorida.

Um comentário:

  1. E se amor houve, valeu à pena...
    Como sempre, adorei o post. Tenho certeza que sua amiga vai adorar o post. Você é muito especial! Diva das Palavras, diva da VIDA!

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