domingo, 19 de junho de 2011

O patinho Feio

Rio de Janeiro,
O bom Patinho Feio


Lá vem o Pato, o feio que é bonito


O Patinho Feio, em texto de Maria Clara Machado.
Ao Centro, George Sauma. À direita, sua mãe, a elegante pata Fabiana Valor, cercados por Nedira Campos e Claudia Paiva.

A história do Patinho Feio, no conto original de Andersen, é uma história de rejeição, de bullying e de preconceito. A mãe pata choca equivocadamente um ovo de cisne. Nasce a ave, feiosa, que será espezinhada pelos irmãozinhos e pela própria mãe. Abandonado e entregue à própria sorte, o infeliz sobrevive e encontrará a felicidade entre os cisnes. Veja bem: será feliz entre os da mesma raça. Queridos, é a história do nazismo. Rejeita o que náo é ariano, judeu com judeu, alemão com alemão.

Fui. Fui com meu pequeno. Algo me dizia que George Sauma, o filho pateta de Marisa Orth em Toma Lá Dá Cá, amenizaria a crueldade do conto. Algo também me dizia também que Renato Vieira, coreógrafo dos deuses, não comungaria de maldades.

É, tenho intuições. Às vezes me enganam, mas não desta feita.
Minhas intuições estavam certas, certíssimas.

O que assistimos, eu e meu Patinho, foi a uma versão politicamente correta do clássico. Entre lindas coreografias e leves canções o Patinho Sauma é desajeitado. As irmãs patinhas são fofas e o maltratam, mas não tanto; eis que ele reage a tempo e toma sozinho a decisão de ir embora.
Vejam bem, é completamente diferente - não é a Mummy malvada que expulsa o filho, e ela ainda pergunta se ele quer ir. Há a figura da Rainha Pata Avó, uma imperatriz Pata, que bate o martelo: vá mesmo. A maldade dilui-se entre os três personagens, Patinho, Pata e Pata Avö, o que dilui também a covardia da história original.

No seu solitário destino, o Patinho sofrerá. Mais uma vez a versão é vitoriosa e apresenta gatinhas, galo, galinha, gato, dançando divinamente. Pudera. Renato Vieria os coreografou.
O pas-de-deux do galo e da galinha Fabiana Valor é um primor, tecnicamente preciso e engraçadinho com bicadas e ciscadas. Figurinhos de excelente gosto tornam o visual de toda a peça delicioso. As crianças aprendem o refrão criado por Jonh Neschling, e o Patinho está só, mas náo triste e sofrido.

O final se aproxima. O patinho assume: sou feio mesmo, em voz alta, corajosamente. Entram em cena cisnes cor de prata, em passos de ballet. Cercam-no, levam-no e ele volta um príncipe negro e reluzente.

Apuro os ouvidos. É a hora da verdade. Quero só ver se vão dizer, no palco da Gávea, para uma platéia seleta, que só o belo é bom. Que bom que tornou-se belo e encontrou os seus iguais. Que bom que os patinhos estão com os patinhos e que os cisnes estão com os cisnes. Aguardo essas declarações preconceituosas que justificam os guetos e os holocaustos. Aguardo o pronunciamento da tirania da Beleza. Eis que nada disso ocorre!!! Eis que o Patinho declara que é feliz porque descobriu quem é!!!! Aplaudo.

As crianças aplaudem e aprendem: somos felizes ao descobrirmos quem somos. Nada de tentar parecer outro bicho. Assuma-se, seja que bicho você for. Pássaro, gato, pato ou flor (eu também aprendi o refrão).

Conseguiram. A história triste com final feliz mostrou-se triste e superável. Sábia versão da vida: a tristeza pode ser superada, pelo auto-conhecimento.

O Belo Patinho Feio conseguiu o que levamos a vida inteira e muitas vezes náo conseguimos; saber exatamente quem se é.

E eu descobri quem é George Sauma. Um ótimo ator. Pato ou cisne, feio sempre, menos quando sapateia. Aí, caríssimos, George é um gato.

Nenhum comentário:

Postar um comentário