sexta-feira, 1 de abril de 2011

As sogras da nossa vida

Rio de Janeiro,
República do amor e seus efeitos colaterais


As sogras estáo soltas por aí

Sei perfeitamente que sexta feira não é dia de problemas, nem de reclamações,
aliás, nenhum dia deveria ser.
Mas problema de amiga minha é meu problema, e vou falar sim.
O problema tem nome: sogra. Sinônimo: bruxa.

E esta, esta é ruim, mesmo, e de carteirinha.
Cresceu no papel. Acreditou em sua força cênica. Está poderosa em seu drama.

Sou chegada a defender as amigas, confesso, chego a perder um pouco o senso de justiça quando entram no circuito, mas no caso estou justíssima: minha amiga não merecia esta senhora em sua vida. Sou chegada também a defender as senhoras. Depois de anos trabalhando e educando, e lutando, tem seus direitos adquiridos. Podem cometer pequenos deslizes. E vamos confessar, há noras e noras.

Mas nesse caso náo. Estou falando de uma graça de moça. Charmosa, alegre, independente, uma bonequinha de nariz arrebitado. Ao seu lado, a sogra fica ainda mais gorda, mais pesada e parece estar sempre mal humorada. Sente inveja, os fatos são esses sim. A nora é bela, jovem, e dorme com o homem que a bruxa ama. Sua sogra é a eterna mãe do bicho homem, seu filho é o macho da espécie. Não no aspecto sexual, está acima disto. É seu. Fez, alimentou, cresceu. É sua cria valiosa para a natureza, sua doação prestimosa para o futuro da humanidade.

E esta sogra tem seus caprichos. Começou bem, gentil, boazinha de todo. Recebeu de braços abertos a namoradinha do filho. Ensinou-a a fazer docinhos, que jeito você tem para doceira. Sorrisos, mimos. Agrados. Norinha para cá, norinha para lá. O namoro começa a ficar sério. A sogra começa a apavorar-se. O filho volta a estudar, incentivado pela vontade de crescer, ser melhor. Mais sério no trabalho. Junta dinheiro. Pronto. Nada mais de docinhos divididos, não, a sogra quer os méritos todos para si. A prerrogativa da função é dela. A coisa piora. A moça arruma bom emprego. Começa a trabalhar, inteligente que é, é promovida. Vai morar com o rapaz. É ótima companheira para o sortudo. Acabou-se de vez o que era doce.

Incorporou a bruxa. Rejeita presentes. Rejeita consideração. Reclama do tempo, de tudo. Quer ser vítima. Quer ser infeliz. Quer ser abandonada. Quer chantagear. Choros inexplicados. Olhares perdidos, cenas. Tem problemas de saúde, problemas financeiros, tem tudo, só não tem cansaço nesta disputa pelo macho do terreiro. Constantemente inconveniente. Bate na janela do casal altas horas para recados urgentes que de urgentes nada tem - a urgência é dizer que está ali, na espreita. Apresenta o pior lado de seu ser: egoísta. Quer o filho de novo pequeno, para si, sob seu jugo. Quer a vida familiar sob seu comando. Quer a nora inofensiva de volta, essa mulher interessante ela dispensa. Prefere a bonequinha ingênua, a quem manipulava, náo essa competente dona de sua vida.
Pobre dela, quer o que não mais terá. Seu filho cresceu e faz suas próprias escolhas.
Já chorei o que chora minha amiga. Experimentei três sogras oficiais, digamos assim: uma argentina e duas brasileiras. A nacionalidade não as diferencia.
Enlouqueceram-me. Tinham em si fonte inesgotável de conhecimentos vários. Superiores em organização doméstica, em compreensão dos fatos cotidianos e espirituais. Econômicas. Bem dispostas. Sete da manhã roupa passada e almoço pronto. Exemplares como mães e esposas. Arrumadas. Insuportáveis.
Prefiro pessoas menos virtuosas, de forma que eu me identifique mais.
Afirmo com consciência tranquila que esforcei-me. Calei-me. Acatei. Presenteei. Ouvi, engoli. Conversei. Nada. Nada agradava a essas senhoras.

Porém, transformações mágicas ocorriam quando o casamento acabava. Quando meu status de nora era rebaixado (ou promovido) para ex-nora. Que maravilha. Aí então fui defendida. Dores compartilhadas, testemunhos a meu favor. Moça boa, meu filho não sabe o que está perdendo. Falas inversas às anteriores. Sabem o que é? Eu não era mais concorrente.

É isso que não quero nesta vida. Concorrer. Quero ser quem sou e ser amada como sou. Sem stress. Por filho, namorado, amigos. Não quero disputar ninguém. Lutar desesperadamente para mostrar meu valor, para ser mais amada, ou amar mais. Deus me livre.

Isso até cansa.

Não quero impor o amor a meus filhos; está aí. Peguem-no, é seu, não sei se é o mais importante, ou o maior, ou o melhor para você, mas é o melhor e o maior que posso dar-lhes.

O amor não ocupa espaço. Podemos amar marido e filhos, enteados, pais, mães, sogras e sogros, irmãos, cunhados. Noras, genros. Até aos amantes, não é mesmo? Podemos. Se quisermos. Podemos amar mais de longe um pouquinho, protegendo com a distância pequenas diferenças. Ou mais de perto, se os bons ventos permitirem. Sem maluquices. Desligar a fervura dos caldeirões de mágoas. Sem conspirar. Sem tramar. Sem espionar. Sem gorjetas para as empregadas abrirem o bico. Sem arrancar segredos de crianças, de porteiros, vizinhos.

Leves, podemos ser leves.

Minha amiga vencerá. Já venceu. É fada, as fadas suspiram, mas tem seu final vitorioso. Deixam, espertamente, que a bruxa se canse, que sua vassoura quebre, e que suas poções azedem. Um dia a bruxa derrete, e seu amor segue, esvoaçando por aí, ainda mais feliz.


Nota: Peço desculpas às boas sogras, boas avós, mães queridas de homens grandes. Continuem a colaborar com seu carinho, e a contribuirem com sua presença para o bem estar da família. E desculpo o destino, que não botou nenhuma destas em meu caminho.

Um comentário:

  1. Que lindo! Vc é mesmo uma escritora extraordinária! Não queremos competir queremos mesmo é dividir que é bem melhor!

    ResponderExcluir