segunda-feira, 11 de abril de 2011

Mostra de Cinema Francês - MAM

MAM
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Martine Carol, uma deusa, em Lola Montés

Digo, repito, volto a dizer: é divino viver no Rio.
Farta cultura, grátis ou quase, em meio a farta natureza, e obras de arte espalhadas e misturadas em isso tudo.

O MAM tem que ser mais incluído na rotina do carioca. É uma plataforma de cultura, suspensa e paralela à Baía de Guanabara, para onde convergem, ou devem convergir nossos caminhos. O meu convergiu para lá no domingo. Fui assistir um dos filmes da Mostra de Cinema Francês, não posso ficar ao largo deste evento. A Mostra é grande, maior que um única exibição, claro, e não pretendo falar da Mostra e sim do filme, fantástico, irônico e amargo que representa com honra o cinema francês, de forma geral fantástico, irônico e amargo.

Assisti Lola Montés. História real de triste fim. Um mulher lindíssima, que viveu entre 1821 e 1861 e morreu em seus quarenta anos, ainda bela, porém decadente. Serve dizer que balançou o Reino da Baviera e foi um dos motivos - talvez o mais forte - para que o Rei Ludwig entregasse a Coroa. Desmoralizado por amar.
Esta é a realidade da vida, queridos. Muitas vezes o amor desmoraliza.

Lola não amou outro senão o Rei. Usou-os, a todos, para prazer e luxo próprios, e pagou na mesma moeda: encantaram-se o compositor Listz, Alexandre Dumas, filho e toda a curriola intelectual européia e americana da época. A moça tinha fôlego e dava conta do recado, com graça e escandâlos. Era estrangeira para a maioria de seus amantes e confessêmos que o sotaque francês é de fato convidativo a alcova.

Porém, ela cai. Há um momento em que o ser humano quer sossego. Não tinha onde sossegar, e termina doente, só, e sem recursos financeiros.
O Rei, com quem provou o doce sabor da estabilidade, foi-se com a Revolução.
A musa não era mais adorada por poderosos, requisito ímpar para ser musa.

O diretor alemão Max Uphols a retrata em seu fim - uma criatura enjaulada, em circo bizarro, a quem paga-se um dólar para beijar a mão. Peter Ustinov é o dono do circo, um cafetão caricato que a idolatra enquanto a explora.

O triste fim, que bem conhecemos, comum a outras que viveram de sua beleza. Terminam em liquidação, pública ou privada. O corpo que muito valeu, não vale mais nada ou quase nada.

A beleza é uma cruel qualidade.
Egoísta, retém o foco em si, e não se enxerga mais nada; finge ser suficiente, abastada, e não é. A beleza devia ser retirada de algumas mulheres, e substituída por amor. Tudo que se precisa, na verdade, não é ser bela, e sim, ser amada.

Um comentário:

  1. Não tiremos a beleza de ser bela! Tenho mais medo da necessidade de ser amada do que da beleza.
    Já ouviste a expressão "quem ama o feio, bonito lhe parece"?
    A verdade é que não deveria ser assim... onde foi o conceito de beleza se associar ao de amor? Porque quem ama o feio não pode lhe enxergar assim, feio?
    Porque no nosso mundo, Mundo, o feio não merece ser amado. Triste e solitária a vida daquela mulher que necessita ser amada e não é bela, precisa fazer-se bela, ao espelho e à vitrine, para merecer a devoção de um homem.
    Dai vem o egoísmo, a beleza é rara, a mulher é humana, ela falha. Bela, acredita que não precisa amar, pois já é suficiente amada, por muitos.
    Mais eficiente do que quitar-lhe a beleza é levá-la de sua juventude, como a sábia vida faz.
    Madura, percebe que tanto amor só haveria servido se pudesse ser correspondido.
    Nesse momento de lucidez, a chance da felicidade...

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