quarta-feira, 6 de abril de 2011

Não estamos acostumados

Rio de Janeiro

Ipanema
De novo
Sempre
Se Deus quiser

Vamos abrir o presente

A notícia ruim chega logo, já dizia minha vó.
E acrescento, tem mais credibilidade.
Todo mundo acredita em tragédia. É provável, é esperado, é perfeitamente possível.
Além do mais, ver o sofrimento do outro diminui o nosso próprio. A comparação entre as dores cria uma rede, sádica, de amparo entre os iguais.

Experimente trazer uma boa notícia. Veja se alguém se empolga. Desconfiam. Torcem o nariz. Questionam a verdade por trás dos fatos.
Seu marido, por exemplo. Se chegar com flores, vai pensar que aprontou alguma.
Promovido, como?, deve ter seus conchavos.
Precisamos macular o outro, seus feitos. Minimizar seu esforço, vulgarizar seus sentimentos. Precisamos reduzir seus méritos, que feio.

É isso - cultivamos a sensaçao de que tudo é muito pouco, é ruim, é insatisfatório.
Porque? Porque achamos que somos superiores. Náo nos enganaráo facilmente. Da mesma forma, em mão dupla, é difícil nos encantar.

Precisamos, com urgência, perceber que há qualidade no mundo e nas pessoas que nos cercam.

Precisamos acreditar.
Confiar.
Apoiar.
Garantir.

Mas de uma forma geral e cruel, não é fácil. Não nos deixamos convecer pelo outro. Precisará provar, incessantemente, suas virtudes.

Tenho um exemplo. Chega uma carta e diz que seu namorado tem outra. Você jamais confiará nele novamente. Mas se tocar o interfone e o porteiro que você conhece há vinte anos disser que está subindo um moço da joalheria, de crachá e tudo, está arriscado que chame a polícia, apavorada.

A vida nos dá dores sim, amiúde, infelizmente.
Mas os presentes que envia, ignoramos muitas vezes.
Desconfiamos. Suspeitamos.

Somos gente. Tememos o bicho homem. Tememos o próximo, Aprendemos, nas cavernas e nas alcovas, que os medos nos protegem. A prudência tem a função de proteção, e a temos por um escudo invulnerável. Mentira. Não minimizará, em nada, nossas decepções.

Por isso, tenho tido uma vontade imensa imensa de ter mais coragem e acreditar mais.
Ser menos prudente.

Desafiar o perigo e fechar os olhos; atirar-me. Abrir os presentes que chegam pelo destino, sem temer que escondam uma bomba.

Bater palmas ante o embrulho ainda fechado.

Que venham para mim, abrirei a caixa sem medo.

Para alforriar-me de tanto bom senso, de tanta precaução.

Estou presa a ditadura do cuidado, e isto, de fato, é claustrofóbico.

Quero as boas novas e os maravilhosos prêmios da vida vivida com alegria.

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