Faculdade Cândido Mendes
i p a n e m a
Abril começou, e veio esquisito
é preciso ir ao teatro
Leandro Lamas e Mariana Rebelo, texto dela, direção de Rodrigo Santanna
Foto: Divulgação
Tenho direito à minha versão dos fatos.
E como testemunho em causa própria, não estou obrigada a dizer a verdade.
Só que meu depoimento será entre risos, muitos, até chorar de rir. Convencerei pelo lúdico.
Debocharei de tudo: dos convites, das festas, das viagens. As lembranças doem, então as maquiarei com muitas gargalhadas.
É isso, gente, a peça é isso. O casal jovem se separa depois de três meses de atrapalhado convívio. Incompatibilidade de temperamento e comportamento. Contarão, cada um por si, sua versão.
Um casal é composto por duas pessoas (pelo menos oficialmente) e cada uma tem sua visão.
As explicações sáo opostas entre si, e há de haver um herói e um vilão.
A posição que você ocupa modifica toda a sua perspectiva da coisa. Você sempre teve as melhores intenções, esse insensível é que pôs tudo a perder.
Se quiser, pode viver assim mesmo. A culpa é do outro, náo sua. Empurre para ele vai ficar mais leve para você. Somos criados para buscar o culpado, por fora e não por dentro.
Mas aguarde a chegada das três manhã, e o toque pontual do despertador da sua consciência. Se puder, reflita.
Os atores estão ótimos. Luzes fortes demais derretendo-os a olhos vistos, não perdem a pose. O cenário é de caixas, vê-se que estáo de mudança, e levarão convicções distintas.
O figurino é via de regra único, e como em brincadeira de criança um colar vermelho indica roupa de festa, e um chapelão com óculos escuros, que estáo indo para a praia. Taças vermelhas transparentes convidam para um drink romântico. Saídas ótimas e de baixo custo.
Dão seu recado lindamente, beiram a caricatura viva.
Aliás, a caricatura é muito útil: permite apontar defeitos sem ferir. No maior fair play. Meus defeitos ali, e posso rir deles, é uma catarse para os presentes. Muitos casaizinhos estáo se identificando, claro que foram lá para isso.
Aprendi muito. Como há décadas passadas, o micro palco da minha Cândido sempre me ensinou algumas coisitas. Por exemplo, lá aprendi que não poderia ser advogada. Confesso, lembrei-me de dias e dias em que matei aula para assistir ao teatro.
Como não percebi que estava construindo uma versão torta dos fatos? Onde você foi Bettina? A Aula de Direito TRibutário? Fui. (Mas acabei indo ao teatro. Jamais disse isso, mas era o que acontecia)
Que injustiça construir uma versão sobre mentiras. Naquele momento era mais fácil assim.
A vida é assim. Temos uma versão para cada momento. Justificativas.
Escolhemos a versão que melhor nos atende, ou muitas vezes não escolhemos, ficamos ora lá, ora cá.
Estou ainda influenciada pela Bailarina de Vermelho,e permitindo-me trocadilhos cafoninhas. Tenho versões. É uma versão, ou não, mas são sim, possibilidades. São versões.
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