domingo, 10 de abril de 2011

Há pessoas melhores que eu

Orla de Ipanema
Horizonte do mundo
MAM
Horizonte da Terra adorada


Esta semana, excepcionalmente, sinto que náo devo comparar-me a outras pessoas.
Trago amarguras que pesarão contra mim. Tentarei ser imparcial comigo mesma.
Amarguras à parte, estou convencida: há muitas pessoas melhores que eu.

Usarei o domingo como amostra, digamos, estatística.

Comecemos pela manhã. É preciso alimentar-se bem pela manhã. Ler os jornais. Ter pensamentos otimistas para o dia que começa, e se possível, fazer amor pela manhã. Fiz o que estava ao meu alcance e saí para caminhar.

Apertei-me em uma legging. Pensei: tenho que parar de comer pão. Ai Jesus. Tanta gente sem pão no mundo e eu reclamo do pão que tenho. Tanta gente gostaria de tomar o café da manhã que tomei, e eu aqui reclamando. Pronto. Já há gente mais merecedora dos meus pãezinhos.

Sigo. Estou aparentemente, muito bem, fones nos ouvidos, traseiro marcado na legging justissima. Lêdo engano. Por dentro, reclamo da calça, do fone e da programação da rádio.

Páro. Um casal em um banquinho, à sombra. Belos, jovens, vinte anos. Sentados comportados, lado a lado, a mesma inclinação dos ombros. Não se tocam, mas são namorados certamente. Tem a mesma calma, o mesmo relaxamento do corpo, estão ambos de chinelos, confortáveis, são harmônicos. Bate um vento nos cabelos da moça, que balançam, lentos. Tem um cachorrinho lindo aos seus pés, e olham para o bichinho, também tranquilo como eles, do mesmo ângulo, e com o mesmo carinho. Tudo muito pacífico.

Pronto. Já encontrei logo de cara dois terráqueos melhores que eu. Nunca fui assim serena. Nunca fiquei calmamente sentada ao lado de meu amor. Estou sempre falando e explicando e contando e gesticulando, e ouvindo atentamente. Enfim, há uma certa urgência na troca de informaçoes, preciosas demais para que se percam. E mais, esses dois parecem estar alheios ao ambiente, como se pousados momentaneamente por ali. Ai de mim. Estou sempre absorvida pelo ambiente, enraizada, ávida.

O frescor deste casal indica, seja pela pouca idade, seja pela aura de tranquilidade, que desconhecem o potencial bélico do amor. Sào mais inocentes que eu fui na idade deles. Mais suaves. Há um desarmamento visível. Conheci, desde pequena as decepções profundas que o amor pode trazer. De fato, entrego-me numa atitude meio imprudente, não relaxo. O casal está em um momento mais nobre, diante do sublime sentimento. Deixaram-se invadir. São mais sábios em sua ignorância, que eu em minha consciência. Começaram melhor, que prossigam assim.

À tarde, sigo para o MAM, e pego um ônibus destes com entrada para cadeirantes.
Irritada. Outro ponto que me derruba. Irrito-me com tremenda facilidade. O ônibus faz um PIN ininterrupto enquanto o cadeirante e seu acompanhante sobem. Espio o porque da demora, estou em cima da hora. Pronto. Há de fato muitas pessoas muito melhores que eu. Um menino, 5 anos no máximo, estava na cadeira. Aparentemente uma criança que teve problemas de oxigenação no cérebro. E Seu Pai. Letras Maiúsculas para Ele. Se há bicho homem que mereça perdão, este Senhor é um deles.
Terno, Carinhoso, Calmo. Sozinho. Cuidando do filho doente com mais paciência que eu cuido do meus filhos lindos e sãos. Tudo sob controle, até o menino, que em sua limitaçao traz um ar de felicidade. Meus filhos sempre reinvindicando, agitados, insatisfeitos. Este Pai é melhor que minha porção Mãe, mais eficaz em meio a maiores dificuldades.

Assim, consciente de minha comprovada inferioridade, deparo-me com felizes casais gays no MAM. Magrinhos e leves, femininos, cabelinhos lisos. Abraçam-se tão efusivamente. Ou as moças parrudas, em bermudas largas e tatuagens, em pares, caminhando e aproveitando sem neuras o domingo.

Todos assumiram-se, sabem quem são. Não temem o julgamento da sociedade.

Pobre de mim.
Se assumir tudo que sinto, serei, além de queimada na fogueira acesa, exilada pelo bom senso. Meus sentimentos precisam esconder-se.
Apavoro-me. Há muitas pessoas no mundo melhores que eu.

3 comentários:

  1. A loucura que adentra e corrói os seres. Somos sempre assim, por vezes nos achamos infinitamente superiores e outrora abundantemente inferior, como se fossemos o escarro do mundo.
    Nada disso, pare de fazer comparações tolas, és linda ao seu modo; escandalosa, pedindo mais. Mas também pudera, a pessoa é toda toda, ou séria um tudão... Um corpo esculpido por Deus, um sorriso que brilha mais que o sol, a pele de dar inveja, maquiagem para quê? Ela é perfeita.
    Quem garante que o momento dos jovens não era a mais silenciosa DR, e garanto essas são as piores, é melhor gritar, o terminar no mais perfeito gozo, do que o silêncio (este sim me mata) e o Sr, era mesmo o pai? Poderia ser um enfermeiro.
    Eu fico com raiva dos gritos da minha mãe, mas o deixar para lá dela me dói muito mais.
    Quer saber, aperte a tecla F%¨&@ e seja a MARAVILHOSA Bettina, essa sim faz a diferença. E a grande verdade é: Não somos nem melhores nem piores, apenas diferente e cada um vê e sente a seu modo.

    ResponderExcluir
  2. As vezes tb me sinto assim: culpada pelas atitudes melhores das outras pessoas... Mas posso lhe garantir uma coisa, vc é uma das melhores pessoas que eu conheço, então não se culpe, aproveite a mulher linda e livre que vc é!

    ResponderExcluir
  3. Somos o que somos, com todos os nossos erros e acertos; às vezes melhores, às vezes piores que outros.
    Coragem! Coragem para sentir e ser o que somos.
    Continue assim com essa sua lucidez e serenidade Bettina, tão necessária à humanidade nos tempos de hoje.
    Bjs!

    ResponderExcluir