domingo, 24 de abril de 2011

Incêndios - e silêncio

Estaçao Botafogo
Estava ali
e o mundo pegou fogo diante de mim



Queremos um mundo sem guerra



Bem, acho que nem devia escrever agora. Cheguei há minutos e estou atordoada.

Quero pedir: vão. Confiem em mim. Sobreviverão após atravessar o Líbano em guerra. Feridas? Sim. Cicatrizes? Sim. Privações? Sim.

Sairemos convictos da imensa injustiça: o destino de um ser humano é traçado a partir do ponto que ele nasce no planeta. Seu caráter rabiscará desvios, mas não há muito como fugir da reta riscada pelo Poder Superior.

Poderá ser um mártir ou um grande médico, se nascer no Irã, ou no Canadá. Uma mulher felicíssima ou uma adúltera a ser apedrejada, se nascida no Brasil ou no Líbano.

Pergunto: uma moça pode ter um filho com quem quiser, se amar, se desejar? No Brasil, sim. No Oriente Médio náo. Esse amor, e esse filho, e a guerra acabaram com a vida de Narwal, nossa mártir. Uma mulher marcada por profundas tristezas, incuráveis, por imensas. O mundo violento em que viveu era ainda menor que tanta dor. Nada do que pudesse ter feito, teria mudado seu destino, e ela fez muito. Esta mulher caminhou pelo deserto em guerra, sozinha, em busca do fruto de seu ventre, e ele havia sido levado dela novamente. Esperança destruída. Impotente face aos fatos, troca de lado. Era cristã, era assassina, era terrorista. O destino, que tudo tirou-lhe, arma-lhe terrível golpe: seus filhos só conhecerão seu amor depois de morta. Desprezados por ela em vida, entenderão tudo no fim. E o filho amado, em qual rosto se escondera? Qual ruína era seu esconderijo? Criado sem amor, sem pão, sem risos, sem beijos. Criado com tiros.

Tomara que se encontrem, e que fiquem juntos, seja como for.
" Nada é mais belo que estar junto ", último desejo de Narwal, tomara que ao menos ess se realize.

A guerra engoliu sua vida. Viveu sem vida. Mais não digo. Digo apenas que o filme é maravilhoso e horrível. O primeiro pelo talento de sua realização, pela perfeição cinematográfica, completa, inquestionável. E o segundo, pela cruel realidade que nos apresenta.

Saí atônita. Quero silêncio, em solidariedade à Narwal, e aos nascidos nos países do Oriente Médio. Em luto. Mesmo vivos, seu corações estão muitas vezes, mortos.

Quero que você, caríssimo leitor, reflita.

Aproveitamos sinceramente a nossa sorte?
Somos de fato livres e intensos como podemos?
Amamos nossos filhos com todo o coração?
Nossos pares? Desfrutamos os momentos em que estamos juntos?
Somos bons alunos? Leais amigos? Somos bons profissionais?
Gozamos da liberdade de ir e vir?
A liberdade de amar?

Sempre reclamando, insaciáveis... não sabemos nada desta vida.
Perdemos tempo, perdemos pessoas, perdemos conhecimento.
Exigimos, somos intolerantes.
Jogamos pela janela bens preciosos, e nem percebemos.

Eu devia ter escrito agora sim.
Não podemos perder um minuto mais.
Pelos que não podem, pelos que não tem,
por aqueles que não conseguimos atingir com doações milionárias e teorias político-econômicas, e que nem a comunidade internacional consegue salvar,com a ONU e suas ligas, e a Cruz Vermelha.
Por aqueles a quem os anos negam a benção da consciência tranquila.

Não vamos desperdiçar um segundo. Vamos viver em plenitude, e em PAZ.

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